As emoções fervilham em todo o planeta. Comunidades ultimam os preparativos. Multidões se aglomeram rezando a todos os santos. Os otimistas olham confiantes para o futuro. O que sobrar é lucro. Os pessimistas fazem figas para que, no mínimo, caia um asteroide com 50 km de comprimento acompanhado por uma monumental chuva de meteoros sob a vigilância atenta dos Desgracilianos, uma das raças que quer exterminar a Humanidade... porque sim.
Robaki, vidente especialista em catástrofes, assegura que, no fatídico dia, a Terra sofrerá 3 Inversões Polares, umas seguidas das outras. Ondas de 2000 metros de altura varrerão o planeta. Mas, o vidente alerta que os bons serão poupados tal como aconteceu nos terremotos de 2004 e 2011. "Quando a gigantesca massa de água se precipitar sob os Continentes, ela parará para perguntar às pessoas que se encontram no caminho, se foram bons seres nesta vida", disse. "Se sim, um buraco de minhoca vindo do centro da galáxia os sugará de imediato". (Não confundir com o planeta chupão).
De seguida, a famosa cartomante Georgina Trambiquieva, jura que as cartas não falham. Cada vez que as atira sobre a mesa lá aparece sempre a mesma figura. "Lanço cartas desde que nasci e nunca vi nada assim. Olhe...21 de dezembro... 21 de dezembro... viu? Não falha. Carta 22: é o louco."
Eu não entendo nada de cartomância, mas se ela pergunta para o dia 21 e lhe sai o 22... não sei. Talvez sejam cartas compradas no 1,99.
Relatos dão conta que já se ouvem os ruídos do fim do mundo. São as trombetas. Não. Nada disso. É o vizinho debaixo outra vez a arrastar os móveis. É impressionante como este homem está sempre em mudança. É aquele que se muda sem se ver. Um contente descontente que de tantas mudanças não sai do lugar.
Estas coisas deixam qualquer um nervoso. Fui dormir. Depois de fechar portas e janelas, liguei o alarme que está conectado com o sistema de boias anti-tsunami. O reator nuclear que permite o acesso ao bunker tb estava a funcionar. Feito isso, vejo uma luz à minha frente. Intrigado, questionei: "O que é isto?". E eis que uma voz sussura: "Vim de longe... tenho uma mensagem para ti". Assustado, peguei na minha caçadeira de 3 canos, no duplo colete à prova de bala e aproximei-me da porta. Espreitei pelos binóculos de infra-vermelhos e...é o Messias!! Não. Era o carteiro. A luz vinha da lanterna. Entregar correspondência às 11 da noite não é normal. Mas a encomenda tinha sido pedida com caráter de urgência.
O tempo afunila-se. A sensação de que o tempo urge é um fato. Deitei-me. Para mim, passaram-se uns 15 minutos, mas quando acordei já eram 09:30. O relógio atômico da sala, em contagem decrescente, aponta pouco mais de uma hora para as 11:11.
Ouvi um estrondo. Fiquei estarrecido. E agora? Era tudo verdade? Fujo para as montanhas ou abrigo-me no bunker? Outra vez. Outro estrondo. Este até fez eco. Os vidros estremeceram. As pernas tremiam e o olho esquerdo piscava freneticamente. "É o Apocalipse!", exclamei. Não. Era trovoada. Lá fora chovia torrencialmente. Não se via viv'alma.
Olhei as horas... faltavam 5 minutos para o fim do ciclo. Nada de especial acontecia. As únicas coisas que vi foi um gato a caçar borboletas e o cão manco que costumava passar todas as sextas-feiras pela frente da casa. Fora isso, nada.
O telefone toca. Quem seria justo as estas horas? Quem seria o pateta alegre para telefonar justo na hora do fim do mundo? Atendi. Perguntaram se era da pizzaria "Baktun" porque queriam fazer um pedido. Mas quem é que encomenda pizzas às 11 da manhã? Disse que era engano e desliguei.
2 minutos para as 11:11!! Corri em direção ao bunker. A caminho, tropecei numa bota que usava para caçar caracóis. Desequilibrei-me, dei 3 largas passadas e aterrissei de queixo em cima dos comandos que disparavam setas venenosas caso extraterrestres invadissem a casa. Ferido no ombro, levantei-me, e continuei mas fiquei preso na armadilha para ursos que tinha montado para impedir que zombies me perseguissem.
Arrastei-me até à porta do esconderijo que fecharia automaticamente a exatos 60 segundos do tempo final. Apoiei-me na maçaneta e num impulso lancei-me para dentro do abrigo. Fiquei com a perna entalada na porta que já se fechava. Forcei a entrada. Entrei, mas parte das calças não. Será a isso que chamam de meia calça? Fica a questão.
SOBREVIVI ao fim do mundo. Apesar das grandes dificuldades, ferido e muito cansado. Depois de tudo por que passei... valeu o esforço. O bom deste fim do mundo é que amanhã é sábado e vou poder descansar porque na 2ª feira há serviço para fazer.
22 de dezembro de 2012 -
o dia seguinte
Rodas de rodas. Ciclos de ciclos. Um termina, outro se
inicia. Na escala do multiverso o único fim que há é aquele que dá
origem ao início. Solstício. Marco astronómico. Os 7 que se seguem definem o caminho.
Ciclos de calmaria. Ciclos de tempestade. Consciências que se agitam. Novo
ciclo, novos desafios. Relógios universais, naturais, mas que para os Humanos são
especiais. Tempos perigosos, em cima e em baixo. Acontecimentos progressivos.
Mudanças que ocorrem. A vida prossegue. Descobertas.
Conceitos revolucionários.
Um comentário:
Falando em ciclos: o nosso quente esta terminando.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_de_tempo_geol%C3%B3gico
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